Mosca do substrato em cultivos de maconha

As chamadas moscas do substrato no cultivo de maconha correspondem, quase sempre, a mosquitos da família Sciaridae, conhecidos em inglês como fungus gnats (gênero Bradysia e afins). São uma praga típica em cultivos em vaso e sistemas de substrato úmido, incluindo a cannabis, especialmente em espaços interiores e salas de cultivo com umidade elevada.

Identificação da mosca do substrato

Adultos

Os adultos são pequenos mosquitos de cor escura (3–4 mm), de corpo fino, patas e antenas longas e asas transparentes. Comportam-se como fracos voadores: tendem a caminhar sobre o substrato e realizar voos curtos ao redor dos vasos e das fontes de luz.

Larvas

O principal problema para as plantas não são os adultos, mas sim as larvas. Elas têm aspecto de verme fino, translúcido ou esbranquiçado, de até 5–8 mm, com uma cápsula cefálica negra muito visível. Vivem nos primeiros centímetros do substrato, onde se alimentam de fungos, matéria orgânica em decomposição e raízes finas.

Ciclo de vida e condições que favorecem a mosca do substrato

O ciclo biológico das moscas do substrato inclui quatro fases: ovo, quatro estágios larvais, pupa e adulto. Em condições de estufa ou sala de cultivo temperada, uma geração completa pode ocorrer em aproximadamente 2–4 semanas, dependendo da temperatura do substrato.

• Postura dos ovos: as fêmeas depositam seus ovos nos primeiros centímetros de substrato úmido e rico em matéria orgânica.
• Larvas: emergem após alguns dias e se alimentam de fungos e raízes jovens. É a fase mais danosa para a cannabis devido ao impacto direto no sistema radicular.
• Pupa: ocorre no próprio substrato; após alguns dias emergem os adultos.
• Adultos: vivem entre 7 e 10 dias, período no qual podem pôr cerca de 100–300 ovos por fêmea, favorecendo explosões populacionais se a umidade não for controlada.

As condições típicas de um cultivo de maconha que favorecem a praga são:

• Irrigações frequentes sem períodos de secagem do substrato
• Misturas de substrato com alto teor de matéria orgânica fresca ou mal compostada
• Acúmulo de raízes, restos de folhas e resíduos em bandejas e mesas de cultivo
• Falta de ventilação na zona dos vasos

Numerosos estudos em estufas comerciais demonstraram que os sciarídeos se desenvolvem melhor em substratos úmidos, com elevada atividade microbiana e abundante matéria orgânica.

Impacto no cultivo de maconha

Nos cultivos de cannabis, a presença de moscas do substrato costuma ser interpretada como um sintoma de excesso de umidade no sistema radicular.

Danos diretos

• As larvas consomem raízes finas e pelos radiculares, reduzindo a capacidade da planta de absorver água e nutrientes
• Mudas e estacas em enraizamento são especialmente sensíveis; podem colapsar ou apresentar murcha súbita mesmo com populações moderadas
• Em plantas jovens, a perda de raízes resulta em atraso no crescimento e menor desenvolvimento da parte aérea

Danos indiretos no cultivo de cannabis

• As feridas nas raízes favorecem a entrada de patógenos do colo e da raiz (por exemplo, Pythium spp.), aumentando a incidência de podridões radiculares
• O estresse radicular torna o cultivo mais vulnerável a outros fatores (salinidade, desequilíbrios nutricionais, estresse hídrico)

Relatórios específicos em cultivos de cannabis confirmam que, embora raramente sejam a praga mais devastadora, as moscas do substrato podem comprometer a homogeneidade do cultivo e o rendimento se não forem geridas de forma preventiva.

Monitoramento e diagnóstico na sala de cultivo

Armadilhas adesivas amarelas

A melhor ferramenta para monitorar adultos, e um dos itens indispensáveis em qualquer cultivo, são as armadilhas adesivas amarelas colocadas à altura do substrato ou ligeiramente acima. Permitem:

• Detectar a praga de forma precoce
• Estimar a pressão populacional (contagem de adultos por armadilha por semana)
• Diferenciar sciarídeos de outras pequenas moscas

Essa técnica é amplamente recomendada em programas de manejo integrado de pragas em estufas.

Manejo integrado das moscas do substrato na cannabis

O controle eficaz consiste em combinar medidas de manejo da irrigação e da umidade relativa com métodos de controle biológico. O uso de inseticidas químicos de amplo espectro é considerado o último recurso na horticultura técnica e não é desejável em cultivos destinados ao consumo.

Medidas de controle da irrigação e umidade relativa

• Ajustar a irrigação: evitar manter o substrato constantemente saturado. Deixar secar a camada superficial entre irrigações reduz drasticamente a viabilidade de ovos e larvas.
• Melhorar a drenagem: usar recipientes com drenagem adequada e substratos bem arejados, evitando encharcamentos em bandejas e mesas.
• Higiene da área de cultivo: remover restos de folhas, raízes, algas e substrato derramado, que funcionam como focos de reprodução.
• Controle de umidade ambiental: em interiores, ajustar ventilação e desumidificação para evitar zonas permanentemente úmidas ao redor dos vasos.
• Manejo do substrato: utilizar misturas de qualidade, preferencialmente pasteurizadas, e evitar o armazenamento prolongado de sacos abertos em condições quentes e úmidas.

Controle biológico

A literatura concorda que o controle biológico é a ferramenta central para gerir sciarídeos em sistemas intensivos. Entre os agentes mais estudados estão:

Nematóides entomopatogênicos (Steinernema feltiae)

• Aplicados ao substrato através da irrigação
• Penetram nas larvas e liberam bactérias simbióticas que causam sua morte
• São eficazes em um intervalo de temperatura moderado e com substrato úmido, mas não saturado
• Estudos comparativos mostram eficácias entre 70–90% na redução de larvas e adultos emergentes em diferentes cultivos

Bactéria Bacillus thuringiensis var. israelensis (Bti)

• Produz toxinas específicas para larvas de certos dípteros (mosquitos, moscas negras e sciarídeos)
• Aplica-se ao substrato seguindo as indicações do rótulo
• Diversos estudos mostram reduções significativas de larvas e adultos quando aplicada repetidamente em intervalos de 5–7 dias

Armadilhas e barreiras físicas

• Armadilhas adesivas amarelas: ajudam a reduzir parcialmente a população de adultos e, sobretudo, a monitorizar sua dinâmica.
• Coberturas do substrato: camadas superficiais de areia grossa, perlita ou materiais inertes podem dificultar a postura de ovos e a emergência de adultos, desde que não comprometam a aeração das raízes.

Referências

1. University of California IPM. “Fungus Gnats.”
2. University of Connecticut, Greenhouse IPM. “Biological Control of Fungus Gnats.”
3. Kansas State University. “Fungus Gnat: Management in Greenhouses and Nurseries (MF2937).”
4. Van Tol, R.W.H.M. et al. “Microbial Control Agents for Fungus Gnats (Diptera: Sciaridae).” Insects, 2021.
5. GrowerTalks. “A Constant Scourge: Fungus Gnats.”
6. AHDB Horticulture. “Cultural and Biological Control of Sciarid and Shore Flies in Protected Ornamentals.”
7. Blogs e guias hortícolas do sul da Europa e da América Latina sobre moscas do substrato em cultivos em vaso (Verdecora, Jardinería On, Hortalan, Plantasmanía, Promesse de Fleurs, VerdeEdén etc.).
8. Artigos e guias técnicas específicas sobre o manejo de fungus gnats em cultivos de maconha.